Confederação Nacional das Associações dos Servidores do INCRA – CNASI
Associação Nacional dos Engenheiros Agrônomos do Incra – ASSINAGRO
Associação Nacional dos Servidores do MDA – ASSEMDA
No dia 25 de abril os servidores do MDA e
do INCRA realizam paralisação das atividades em todo o território
nacional. O ato se dará num contexto de jornada de lutas unificada das
três entidades associativas da categoria pela melhoria das condições
salariais. Também se dará num contexto de derrotas para o movimento sem
terra e camponês.
É importante que entendamos estes dois
contextos, aparentemente desconexos, através dos fatos que deles se
intercalam. Pois exprimem uma mesma situação: o desprestigio que passa o
modelo camponês de produção e a reforma agrária junto ao Estado
brasileiro.
O INCRA, entre 1985 e 2011, teve o seu
quadro de pessoal reduzido de 9 mil para 5,7 mil servidores. Nesse mesmo
período, sua atuação territorial foi acrescida em 32,7 vezes – saltando
de 61 para mais de 2000 Municípios, um aumento de 124 vezes no número
de projetos de assentamentos assistidos. Até 1985 o INCRA geria 67
projetos de assentamento. Hoje este número supera os 8.300, e área
total assistida passou de 9,8 milhões para 80,0 milhões de hectares.
O número de famílias assentadas
atendidas pelo órgão passou de 117 mil para aproximadamente um milhão,
totalizando cerca quatro milhões de pessoas. Encerrando, assim, um
verdadeiro paradoxo, entre um crescimento da demanda de serviço e uma
redução drástica, nos últimos anos, de meios para atendê-los.
Ressalta-se ainda que o número de servidores está prestes a sofrer novas
reduções. Somente no Governo Dilma, outros 2.000 funcionários estarão
em condições de aposentadoria, aprofundando ainda mais o deficit de
servidores no órgão.
Além da aposentadoria, a baixa
remuneração percebida pelos servidores do órgão tem sido importante
agente de evasão. Nos últimos dez anos o INCRA realizou três concursos. É
verdade que o número de vagas disponibilizadas foi muito reduzido,
insuficiente para suprir a gigantesca demanda do órgão. Entretanto, nem
essas poucas vagas hoje se encontram preenchidas. Dos dois primeiros
concursos realizados, cerca de 30% dos servidores já pediram exoneração,
e do último concurso, cuja homologação se deu há poucos meses, apenas
51% dos profissionais convocados assumiram.
Situação semelhante é vivida pelo MDA.
Criado em 1999, seu primeiro concurso ocorreu apenas em 2009, sendo que
já houve uma evasão de 1/3 dos servidores. Hoje, a força de trabalho
oficial do MDA é inferior a 140 servidores para todo o país. Assim como
no INCRA, a principal causa da evasão são os baixos salários.
Os concursos para provimento nos órgãos
agrários são pouco atraentes. Nestes órgãos não há política de
capacitação, nem política de qualidade de vida no trabalho, tampouco
política de carreira, e nem previsão de contratação de novos
servidores. Ademais, a remuneração dos servidores efetivos do MDA e
INCRA é, em média, duas vezes e meia inferior à do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Sendo que em todos os
órgãos, INCRA, MDA e MAPA, realizam-se funções similares e até 2003
tinham seus salários equiparados. Distorçam que se iniciou e aprofundou
justamente nos governos do Partido dos Trabalhadores.
O discurso oficial governo reproduz a ladainha dos inoperantes, de que a questão agrária não se resolverá "pura e simplesmente com a distribuição de terra", de que é necessário “qualificar os assentamentos existentes”, de que é preciso pensar e “garantir uma agricultura familiar pujante”.
Pura balela. A verdade é que o governo não tomou posse na área agrária,
não sabe e não quer promover o desenvolvimento agrário, e quando se
pronuncia é apenas para enrolar.
Na questão da assistência técnica, por
exemplo, o programa ATER do MDA, de incentivo básico a produção da
agricultura familiar não poderá garantir sua expansão devido a falta de
servidores. O MDA não tem como expandir o programa. Todos os servidores
do órgão estão com sua carga máxima de contratos para fiscalizar.
Atualmente há mais de 40 contratos que estão assinados no MDA e não
iniciam suas atividades porque não há servidores disponíveis para
fiscalização.
Por sua vez, o corte este ano em 70% das
verbas de custeio para o INCRA simplesmente engessará o órgão. O INCRA
está e continuará parado. Um dos principais efeitos do corte, nos
próximos dias, será a inevitável redução dos serviços de assistência
técnica aos assentamentos da reforma agrária. Contratos já feitos terão
que ser cancelados. Redução do custeio que contraria a própria política
do governo. Pois não há como falar em produtividade ou “qualidade” da
reforma agrária sem assistência técnica.
A continuar esse espetáculo vergonhoso,
de recebermos as migalhas da política agrícola e mantermos o corpo
técnico dos órgãos agrários a míngua, a agricultura familiar e reforma
agrária continuarão a padecer.
Mais digno seria o governo assumir
publicamente que não lhe interessa a agricultura camponesa ou a reforma
agrária, que seu projeto para o campo é e sempre foi o agronegócio.
Dizer em seu discurso oficial, o que os dados já demonstram: que o
Brasil sofreu nos últimos anos o maior índice de concentração de terras
de todos os tempos, que está em curso um enorme processo de concentração
da produção agrícola, que destina 85% de todas as terras agrícolas
apenas para quatro produtos: soja, milho, cana e pecuária de corte, que a
política econômica do governo é voltar o país aos tempos coloniais, uma
república exportadora de bens primários.
Enquanto servidores acreditamos que para
superarmos essa barreira é preciso que lutemos pela estruturação dos
órgãos públicos para atendimento das demandas sociais. E será preciso
que a sociedade lute por um modelo de desenvolvimento agrário calcado na
Reforma Agrária e na consolidação da Agricultura Camponesa e/ou
Familiar.
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